Desço uma ruazinha esburacada, parece que choveu a
noite passada. O chão está molhado, mas não tem lama e não chega a grudar em
minha sandália. Logo à frente, uma casinha à direita bem ao final da rua - Com
certeza eu estava indo para lá.
Não consigo ver as janelas e sim, duas portas
acinzentadas, já desgastadas pelas intempéries e que estão fechadas. Contorno e
entro por uma porta ao fundo que está aberta. Percebo que o ambiente não tem
muita claridade. Não vejo móveis, exceto uma mesa que está localizada no que
seria uma segunda sala. Esta mesa é de aparência bem artesanal que em nada
lembra os móveis industrializados do nosso tempo.
Sentado à mesa, de costas para uma janela, está um
senhor magro. Devido a pouca claridade do ambiente, não tenho certeza da cor do
homem... Lembro-me dos seus olhos verdes penetrantes e seus cabelos pretos
jogados pra trás - Aliás, olho por esta janela e recordo que na noite anterior
choveu bastante.
É uma manhã nublada, este senhor olha pra mim com um
sorriso, mas não fala nada... O interior dessa casa lembra um filme em preto e
branco antigo. Estou alí ao lado da mesa, olhando para este senhor e, de
repente, uma porta se abre, o que pareceu-me dar acesso a uma cozinha. De lá,
sai uma senhora alta e magra de aproximadamente 1.90m – Imagino. Ela é morena
tem cabelos longos e olhos também verdes.
Devido a pouca claridade, não sei dizer a cor da roupa
que a mulher veste. Está com um vestido comprido e mangas até a metade dos
braços, é uma vestimenta típica dos anos 20 ou 30. -Foi o que pensei na hora. Sua
idade estima entre 50 a 60 anos. Naquele momento, ela vem sorrindo em minha
direção, mas fica em pé ao lado da porta. Percebo que os dois são familiares
pra mim naquele momento.
Conversei com aquela mulher por longo tempo, não me
sentei. Fiquei ali em pé, enquanto aquele senhor que estava sentado, apenas nos
observava com seu sorriso profundo e constante... De repente, tudo se tornava
familiar entre nós. Fora daquela realidade, não consigo lembrar nada que
conversamos. Sei apenas que aquelas pessoas tiveram e tem uma ligação comigo.
Despedi-me deles e caminhei em direção à porta pela
qual eu entrei, parei um pouco e olhei pra trás e eles estavam me olhando com
aquele sorriso que não consigo esquecer. Subi a ladeira esburacada pela chuva,
caminhei, caminhei e quando cheguei lá em cima, onde vi outras casas não tão
diferentes daquela que a pouco estive. Dei uma última olhada para trás, e a
realidade mudou. Pareceu-me uma viagem a outra época...
A.Amorim SP, 29/05/2014