quinta-feira, 29 de maio de 2014

A Casinha Antiga no final da Ladeira


Desço uma ruazinha esburacada, parece que choveu a noite passada. O chão está molhado, mas não tem lama e não chega a grudar em minha sandália. Logo à frente, uma casinha à direita bem ao final da rua - Com certeza eu estava indo para lá.
Não consigo ver as janelas e sim, duas portas acinzentadas, já desgastadas pelas intempéries e que estão fechadas. Contorno e entro por uma porta ao fundo que está aberta. Percebo que o ambiente não tem muita claridade. Não vejo móveis, exceto uma mesa que está localizada no que seria uma segunda sala. Esta mesa é de aparência bem artesanal que em nada lembra os móveis industrializados do nosso tempo.
Sentado à mesa, de costas para uma janela, está um senhor magro. Devido a pouca claridade do ambiente, não tenho certeza da cor do homem... Lembro-me dos seus olhos verdes penetrantes e seus cabelos pretos jogados pra trás - Aliás, olho por esta janela e recordo que na noite anterior choveu bastante.
É uma manhã nublada, este senhor olha pra mim com um sorriso, mas não fala nada... O interior dessa casa lembra um filme em preto e branco antigo. Estou alí ao lado da mesa, olhando para este senhor e, de repente, uma porta se abre, o que pareceu-me dar acesso a uma cozinha. De lá, sai uma senhora alta e magra de aproximadamente 1.90m – Imagino. Ela é morena tem cabelos longos e olhos também verdes.
Devido a pouca claridade, não sei dizer a cor da roupa que a mulher veste. Está com um vestido comprido e mangas até a metade dos braços, é uma vestimenta típica dos anos 20 ou 30. -Foi o que pensei na hora. Sua idade estima entre 50 a 60 anos. Naquele momento, ela vem sorrindo em minha direção, mas fica em pé ao lado da porta. Percebo que os dois são familiares pra mim naquele momento.
Conversei com aquela mulher por longo tempo, não me sentei. Fiquei ali em pé, enquanto aquele senhor que estava sentado, apenas nos observava com seu sorriso profundo e constante... De repente, tudo se tornava familiar entre nós. Fora daquela realidade, não consigo lembrar nada que conversamos. Sei apenas que aquelas pessoas tiveram e tem uma ligação comigo.
Despedi-me deles e caminhei em direção à porta pela qual eu entrei, parei um pouco e olhei pra trás e eles estavam me olhando com aquele sorriso que não consigo esquecer. Subi a ladeira esburacada pela chuva, caminhei, caminhei e quando cheguei lá em cima, onde vi outras casas não tão diferentes daquela que a pouco estive. Dei uma última olhada para trás, e a realidade mudou. Pareceu-me uma viagem a outra época...

A.Amorim SP, 29/05/2014